Saúde mental, jornada exaustiva e o direito ao descanso: o que (ainda) precisa mudar no mundo do trabalho?

Neste Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, é fundamental ir além das homenagens e refletir sobre o cenário alarmante da saúde mental no ambiente de trabalho no Brasil. Dados recentes evidenciam um aumento significativo nos afastamentos relacionados a transtornos mentais. Entre 2012 e 2022, os afastamentos por doenças como depressão, ansiedade e transtornos de estresse pós-traumático aumentaram mais de 150%. Em 2024, o país registrou mais de 440 mil afastamentos por essas condições, representando um aumento de quase 67% em relação ao ano anterior, conforme dados do Ministério da Previdência Social .

Fatores como jornadas excessivas, metas inalcançáveis, ambientes de trabalho tóxicos e falta de suporte adequado contribuem para esse cenário. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu, em 2022, a Síndrome de Burnout como um fenômeno ocupacional, caracterizado por exaustão extrema, sentimentos de negativismo e redução da eficácia profissional. Esse reconhecimento destaca a necessidade urgente de políticas e práticas que promovam ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis.

Profissionais da saúde, que enfrentaram uma pressão intensa e sobrecarga sem precedentes durante a pandemia de Covid-19, estão entre os mais afetados. Pesquisa da Fiocruz revelou que 86% desses trabalhadores relataram impactos significativos na saúde mental, e muitos ainda carecem de apoio adequado.

A saúde mental no trabalho não é uma questão individual ou de falta de resiliência; é um problema estrutural que exige mudanças profundas na gestão do trabalho, nas leis e na cultura organizacional. A crise no mundo do trabalho afeta diversas categorias, como professores, entregadores de aplicativos, trabalhadores da limpeza urbana, terceirizados da administração pública e motoristas de ônibus, que vivem sob regimes de exploração e invisibilização. Enquanto cresce o debate sobre bem-estar nas empresas privadas, muitas políticas públicas continuam frágeis ou inexistem.

Recentemente, ganhou destaque a proposta de extinção da jornada 6x1, que prevê seis dias consecutivos de trabalho seguidos por apenas um de descanso. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) visa garantir dois dias de descanso semanal, buscando melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e equilibrar produtividade com bem-estar. A proposta já conta com 234 assinaturas, ultrapassando as 171 necessárias para iniciar sua tramitação na Câmara dos Deputados.

Lutar contra a precarização do trabalho e pelo direito de viver com saúde – física e mental – é parte essencial da construção de uma sociedade mais justa. É fundamental que políticas públicas e práticas organizacionais sejam orientadas para a prevenção do adoecimento e a promoção do bem-estar no ambiente laboral. A Associação Vida e Justiça segue comprometida com a defesa da vida, da dignidade e dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores.

Referências:

– Afastamentos por transtornos mentais dobram em dez anos e chegam a 440 mil, Brasil de Fato. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/03/11/afastamentos-por-transtornos-mentais-dobram-em-dez-anos-e-chegam-a-440-mil – Síndrome de burnout é reconhecida como fenômeno ocupacional pela OMS, Agência Brasil.: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-01/sindrome-de-burnout-e-reconhecida-como-fenomeno-ocupacional-pela-oms – Pesquisa mostra impacto da pandemia na saúde mental de profissionais da saúde, Fiocruz Brasília. https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/pesquisa-mostra-impacto-da-pandemia-na-saude-mental-de-profissionais-da-saude/ – PEC contra escala 6×1 é protocolada na Câmara com 234 assinaturas, Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2025-02/pec-contra-escala-6x1-e-protocolada-na-camara-com-234-assinaturas – Proposta de redução da jornada de trabalho e fim da escala 6×1 gera debates no Plenário da Câmara, Câmara dos Deputados. https://www.camara.leg.br/noticias/1110526-proposta-de-reducao-da-jornada-de-trabalho-e-fim-da-escala-6x1-gera-debates-no-plenario-da-camara/