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Covid Longa: uma emergência invisibilizada que começa a ser reconhecida

Mesmo após o fim do estado de emergência da pandemia de Covid-19 no Brasil, os impactos da doença continuam a afetar milhões de brasileiros. Ainda durante a pandemia, surgiram relatos persistentes de pacientes que, mesmo após a recuperação da fase aguda da doença, continuavam enfrentando sintomas debilitantes, afetando a respiração, a cognição, o coração, a saúde mental e outros sistemas do corpo.


Um senhor com máscara e sintomas de covid-19

A esses múltiplos efeitos deu-se o nome de Covid longa ou condição pós-Covid. Em outubro de 2021 a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma definição clínica oficial da doença, resultado de uma consulta global envolvendo médicos, cientistas e pacientes. A condição também passou a ter um código específico na Classificação Internacional de Doenças (CID-10): U09, o que representa um passo fundamental para o reconhecimento institucional e o acesso a direitos.



Ainda segundo a OMS, entre 10% e 20% das pessoas infectadas pelo coronavírus desenvolvem sintomas prolongados, que podem durar meses ou até mais de um ano. Embora ainda haja muitas lacunas sobre as causas e a duração dessas manifestações, a ciência já reconhece mais de 200 sintomas associados à Covid longa. Os sintomas mais recorrentes incluem fadiga intensa, dificuldade de concentração e memória, uma espécie de “névoa mental”; falta de ar, dores musculares e articulares, palpitações, distúrbios do sono, ansiedade e depressão. Em comum, eles impactam profundamente a qualidade de vida de quem sofre com a condição e escancaram a urgência de respostas por parte dos sistemas de saúde.



Rosângela Dornelles, coordenadora nacional da associação vida e justiça, em reunião do Conselho Nacional de Saúde em 2022, para tratar das pautas das vítimas da Covid-19, em especial da Covid Longa ou Pós Covid.
Em maio de 2022, Rosângela Dornelles, representando a Associação Vida e Justiça no CNS.

A Associação Vida e Justiça defende a importância dessa pauta há anos. Em 2022, por meio de sua então Coordenadora Nacional de Saúde, Rosângela Dornelles, a entidade participou da 330ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde, onde pautou a necessidade de promover pesquisas e ampliar o acesso a cuidados de pessoas com condições pós-Covid. Como resultado direto dessa atuação, junto a outras entidades, foi aprovada a Recomendação nº 013, de 26 de maio de 2022, que propôs a criação de uma Rede de Cuidados às Vítimas da Covid-19 e seus familiares.


Em 2023, a luta continuou com a criação de um Grupo de Trabalho entre o CNS e o Ministério da Saúde, que culminou na Nota Técnica nº 57/2023, voltada à construção de diretrizes para o manejo clínico da síndrome pós-Covid. Em março de 2024, o tema também foi pauta no seminário organizado pelo Ministério da Saúde para criação do Memorial da Pandemia de Covid-19. Cada um destes avanços, mesmo os que parecem pequenos perto da dimensão do problema enfrentado, são reflexo direto da mobilização social articulada dentro do controle social do SUS.


Em setembro deste ano, o Ministério da Saúde reuniu familiares de vítimas da Covid-19, especialistas da área da saúde e entidades da sociedade civil, entre elas, a Associação Vida e Justiça, para mais uma reunião onde apresentou os avanços no desenvolvimento do Guia de Manejo da Pós-Covid, voltado à orientação de profissionais da saúde que atendem pacientes com sintomas prolongados. O encontro representou um marco importante de reconhecimento da Covid longa como um problema de saúde pública que exige resposta institucional qualificada, ainda que tardia.


Agora, em outubro, esse processo avançou mais um passo com a realização de um painel técnico organizado pelo Ministério da Saúde, para avaliar as orientações clínicas previstas no guia, reunindo pesquisadores, profissionais da área da saúde e gestores para discutir o conteúdo final do documento. A expectativa é que o guia se torne uma referência nacional no atendimento a pessoas com condições pós-Covid, ajudando a qualificar os serviços de saúde, padronizar condutas, garantir acolhimento e os direitos dos pacientes.


Esses avanços são fruto direto da mobilização das entidades da sociedade civil, familiares, vítimas e profissionais que desde os primeiros meses da pandemia lutam por reconhecimento, cuidado e reparação. A Covid longa é hoje uma das principais pautas das vítimas da pandemia, pois reúne as dores prolongadas de quem sobreviveu e, ainda assim, segue adoecendo em silêncio. A criação de políticas públicas permanentes para o enfrentamento da Covid longa é urgente. Referências para construção desse texto: Resumo Executivo da 330ª Reunião Ordinária do CNS — Conselho Nacional de Saúde

PORTELA, Margareth et al. Cuidado de saúde à Covid Longa: necessidades, barreiras e oportunidades no município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ENSP/Fiocruz, 2024. https://arca.fiocruz.br/items/197101f3-08ab-4821-ba4c-7d1c5cd30821

 
 
 

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